quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O que é doenças da beleza?

Em meio às semanas de moda mais importantes do país, no eixo Rio-São Paulo, passarelas reforçam que ser magérrima ainda está na moda, para desespero de muitas. Os desfiles terminam, mas a publicidade continua usando corpos femininos para vender, ainda que algumas bem-vindas iniciativas comecem a mostrar mulheres “de verdade”, até acima do peso. Mesmo assim, há uma overdose de “beleza magra” na mídia. E, por conta disso, um universo de mulheres insatisfeitas com o próprio corpo, vítimas da síndrome de PIB (Padrão Inatingível de Beleza). “Todo padrão de beleza causa um desastre no inconsciente e gera um cárcere emocional. Massacradas pelo modelo imposto pela mídia, essas pessoas destroem sua auto-estima e sua saúde física e mental. É a maior ditadura de todos os tempos: a ditadura da beleza”, diz o psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor Augusto Cury, criador do termo síndrome de PIB.

Ele afirma que quem sofre com essa ditadura do inconsciente pode ter como conseqüências consolidação da ansiedade, sintomas psicossomáticos (como dores de cabeça e musculares, queda de cabelos, gastrite etc.) e desvalorização da inteligência como objeto de admiração. Em casos mais graves, depressão, transtornos alimentares (como anorexia nervosa e bulimia), vigorexia (necessidade de malhar compulsivamente) e até suicídio.

Não são poucos os afetados. Segundo a American Psychiatric Association, cerca de 55 milhões de pessoas sofrem de anorexia nervosa no mundo. “Só no Brasil existem 1,8 milhão de anoréxicos”, afirma Cury, que lançou recentemente o livro A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres. O número é maior do que de infectados pela AIDS no mundo: 40,3 milhões, de acordo com o Uniaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids). “Mesmo magra e à beira da morte, a paciente sempre se enxerga mais gorda. Existe uma distorção da imagem corporal”, afirma Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador da equipe de psicologia do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP).

Para emagrecer, anoréxicos geralmente usam técnicas como dietas radicais, jejuns de até uma semana, exercitam-se em excesso e, às vezes, podem forçar o vômito para assimilar menos calorias, tomar laxantes e diuréticos (leia reportagem nas páginas 10 e 11). “Transtornos alimentares como anorexia e bulimia tendem a crescer por causa da moda”, afirma Táki Cordás, professor do departamento de psiquiatria da USP e um dos criadores do Ambulim.

Segundo Denise Bernuzzi de Sant’Anna, professora de História Contemporânea da PUC-SP e doutora pela Universidade de Paris com tese sobre a História do Embelezamento, a magreza é algo que casa bem em desfiles de moda. “O problema é que em nossos dias não há mais a antiga separação entre imagens e realidade. Imagens de mulheres magras, vistas na publicidade, não servem apenas como referência para serem imitadas. Servem como espelhos de nós mesmos”. Denise ainda acredita que “os antigos problemas morais que impediam mulheres de modificar o corpo somente em nome da vaidade foram substituídos pela necessidade insistentemente proclamada pela mídia de que toda mulher (e mais recentemente também o homem) deve rimar aparência bela, rejuvenescida e saudável com a promessa do sucesso profissional e afetivo. Tudo se passa como se a conquista da beleza fosse um modo de escapar definitivamente do fracasso, incluindo o risco de depressão e do descarte social”.

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